PESQUISA

O corpo explícito nas artes contemporâneas

Tensões com a purificação midiática das imagens corporais

Esta pesquisa busca analisar as configurações corporais e subjetivas que se produzem, na sociedade contemporânea, em contato ativo com as imagens e os discursos que nela circulam. Por um lado, os dispositivos midiáticos estimulam o fenômeno conhecido como culto ao corpo, um complexo tecido de crenças e práticas cujo cerne é paradoxal: esse corpo enaltecido se submete, ao mesmo tempo, a uma purificação incisiva e sem pausa. Assim, investidos pelos rígidos preceitos que integram a atual moral da boa forma, os corpos são instados a se construírem como imagens lisas e polidas. Essa expurgação da própria carnalidade se apóia numa retórica mercadológica, que prescreve investimentos constantes tendentes a valorizar o capital juvenil em termos visuais. Paralelamente a essa tendência hegemônica, porém, no final do século XX e início do XXI, disseminam-se outros tratamentos da condição encorpada, sobretudo no vasto território das artes contemporâneas. Trata-se de um campo fértil e múltiplo, que não carece de contradições e tende a se hibridizar com os meios de comunicação e com os jogos do mercado, mas costuma apresentar outros desdobramentos da corporeidade e da subjetividade, em tensão com aqueles convencionados pela irradiação midiática. Esse corpo explícito, que rejeita toda idealização ao enfatizar sua espessura e sua consistência carnal, tanto em suas fragilidades como em suas potências, parece confrontar-se com os ímpetos padronizadores que hoje assujeitam e restringem as vivências corporais. Numa época que se caracteriza pela profusão de espetáculos, por um viver entre-imagens e inclusive por certo devir-imagem, cabe indagar em que medida essas propostas artísticas podem contribuir para subverter tais amarras, dilatando suas bordas e abrindo frestas capazes de questionar as moralizações que cerceiam tanto os corpos como as subjetividades.