Esta pesquisa se propõe a enfocar certas metamorfoses nos valores que compõem a moralidade contemporânea, enfocando algumas de suas manifestações mais sintomáticas. A intenção é examinar o substrato sobre o qual alguns fenômenos comunicacionais, bem disruptivos e característicos de nossa época, têm conseguido emergir. A hipótese central é que estaríamos vivenciando, atualmente, certos deslocamentos no “solo moral” que serve de base às práticas comunicativas e às subjetividades contemporâneas, assinalando mudanças significativas nos valores e crenças em vigor. Conforme constatamos nos diversos campos específicos examinados até agora, encontra-se em franco declínio a célebre “hipocrisia burguesa” que norteou as revoluções industriais, com seus ímpetos disciplinares e suas instituições públicas seculares. Entre os escombros dessa crise generalizada do projeto modernizador, colonialista e industrializador, têm brotado novas vozes antes silenciadas (e ainda discriminadas em termos de classe, gênero, raça, etc.), reivindicando direitos e denunciando opressões. Nesse mesmo terreno, porém, também estão germinando certos “cinismos” afinados com o ideário neoliberal em sintonia com novos autoritarismos, que desprezam os antigos consensos acerca do “bem comum” e da democracia, priorizando as liberdades individuais em termos mercadológicos e uma legitimação inédita da violência explícita. Entre muitos outros sintomas desta complexa transformação histórica, cabe mencionar os negacionismos científicos, as fake news e a “pós-verdade”, bem como os trolls e os haters da internet, que têm dominado as práticas comunicacionais contemporâneas e ameaçam sacudir todas as certezas.

Projeto desenvolvido com apoio do CNPq (Bolsa de Produtividade em Pesquisa, 2022-2026).